Objetivo
- Acompanhar o desenvolvimento da equipe e das ações de diversidade em uma redação
- Mapear pontos de ajustes ao longo do percurso
- Identificar as ferramentas específicas e necessárias para atingir o objetivo
- Aumentar o engajamento da equipe com relação às mudanças estruturais e culturais
- Mapear os resultados e impacto das ações no dia a dia da redação
Referência
A Énois iniciou em 2020 o Programa de Diversidade nas Redações que, em sua primeira edição, selecionou 10 redações de diferentes perfis e regiões do País, além de 10 repórteres diversos, para construir mudanças que tornem o veículo mais representativo na produção do conteúdo jornalístico, nos aspectos culturais e de gestão. A métrica foi desenvolvida para mensurar o deslocamento das redações nesse percurso (mostrar quão distante ou quão próxima cada uma está da diversidade em diferentes áreas de atuação), e também mostrar quais ferramentas práticas precisam ser trabalhadas para que elas cheguem ao objetivo: institucionalizar a diversidade, tornando o jornalismo mais representativo.
Resultados
> Acompanhar o desenvolvimento do projeto ou da equipe envolvida ao longo da execução
> Possibilidade de adaptação das estratégias ao longo do caminho para que se chegue ao objetivo central
> Rastreamento mais efetivo de impactos
> Obtenção de dados que norteiam ações estratégicas dos veículos
> Insumo para prestação de contas e busca por financiadores
Passo a passo
Defina um objetivo e um prazo. Quando falamos de diversidade numa redação, há muitos aspectos a serem trabalhados que vão desde a mudança na contratação de profissionais até a escolha das fontes que serão ouvidas nas reportagens. Sendo tão amplo, olhe para sua realidade e estabeleça metas. Você pode ser ousado e iniciar a métrica com um objetivo geral “tornar a redação mais representativa e diversa, olhando para a gestão, aspectos culturais e produção em um ano”, por exemplo, ou ir trabalhando por etapas: “Mudar os processos de produção jornalística para aumentar a diversidade em seis meses”.
Defina as dimensões do que você deseja avaliar. Desenhando os objetivos que você quer alcançar com o olhar para a diversidade, fica mais claro saber em qual ou quais dimensões você deve acompanhar as ações: produção jornalística, gestão, cultura ou outra que você identificar.
Adendo: Se você trabalhar com mais de uma dimensão, cada uma terá um peso diferente na hora de fazer a composição da nota que vai gerar o índice e mostrar o seu deslocamento no processo. Mudanças culturais, que dependem do engajamento das pessoas no dia a dia, na estruturação de processos para ouvir a audiência, analisar o conteúdo ou que dependem de investimentos por parte da gestão para serem executados, costumam ser mudanças mais difíceis e, por isso, quando executadas, devem ter um peso maior na nota.
Crie critérios de avaliação. Dentro de cada dimensão, escolha critérios que você quer avaliar. Você quer avaliar a diversidade na gestão da redação, por exemplo? Um critério pode ser “avaliar se a redação tem processos abertos de seleção que priorizem trajetória social e diversidade dos candidatos”, ou se “há espaços de escuta e cuidado estabelecidos para equipe”, ou ainda se “o pagamento dos salários é feito em dia” (o que também é um cuidado quando falamos de diversidade). Aqui nesta etapa, você define onde exatamente você quer tornar o processo mais representativo e de acolhimento para uma equipe diversa.
Crie as perguntas dentro dos critérios de avaliação. Aqui você vai mais direto ao ponto ainda com a pergunta que fará você responder o que precisa saber, conforme os critérios que decidiu acompanhar. Por exemplo: para o critério “avaliar se a redação tem processos abertos de seleção que priorizem trajetória social e diversidade dos candidatos”, minha pergunta será “A redação tem processo seletivo estruturado para priorizar a contratação de mulheres, pessoas negras, indígenas, trans e vindas da periferia?”.
Criando o cálculo
No Índice de Diversidade do Programa de Diversidade nas Redações, a régua de deslocamento para avaliar o desempenho vai de 0 a 100, onde 0 representa a redação menos diversa e com um caminho maior para estruturar e 100, mais diversa já com muitas ferramentas implantadas.
Acesse abaixo o modelo de planilha usado pela Énois
Modelo de cálculo
Cálculo do Índice
Estabeleça as notas para cada resposta. Na métrica desenvolvida pela Énois, cada resposta pode variar entre 0, 0,5 e 1 ponto. Zero é dado quando a redação “não” fez determinada ação a ser avaliada para atender ao requisito proposto. Atribuímos 0,5 ponto quando a redação iniciou alguma ação informalmente ou pontualmente (ou está estudando formas de implementá-la) e, por fim, damos 1 ponto quando a ação de diversidade é estrutural na rotina da redação como, por exemplo, processos bem definidos de contratação, agenda de pauta fixa para cobrir temas ligados à diversidade mensalmente, banco de fontes diversas usado por toda equipe de redação, criação de espaços de cuidado da saúde mental, endosso dos editores para cobrir temas de diversidade, abordagem do tema na carta de princípios do veículo como política de trabalho.
Identifique seu ponto de partida. Bom, até aqui você já construiu um objetivo específico e o prazo para cumpri-lo, as áreas em que vai implementar as ferramentas de mudança, o que gostaria de avaliar e as perguntas que deve responder para analisar o seu deslocamento nessa construção. Com tudo isso pronto, a primeira coisa que deve ser feita é identificar em qual posição da régua da Diversidade você está. Então, responda o questionário pela primeira vez sendo muito sincero com relação às ações que você ainda não tem na redação para garantir a diversidade. A partir daí, você já vai saber quais ferramentas precisa ter para começar a mudar esse cenário.
Comece a pôr a mão na massa! Use a Caixa de Ferramentas da Énois. Depois de obter a primeira nota onde você vai diagnosticar o tamanho do percurso necessário para alcançar o objetivo, é hora de começar a mobilizar a equipe para as mudanças. Na caixa é possível ter acesso às metodologias, dinâmicas e ações efetivas, descritas em passo a passo, para a ampliação da diversidade nas redações. Um bom começo são as oito ferramentas do Índice de Diversidade.
Faça rodadas de checagem até o final do seu prazo. Pode ser uma vez por mês, ou uma vez a cada trimestre, depende do seu prazo. O importante é você reaplicar a lista de perguntas (e ser muito sincero nas respostas) para avaliar se, após a aplicação das ferramentas, algumas mudanças já começaram a ser feitas. Se você conseguiu criar um banco de fontes negras, por exemplo, já conseguiu dar um passo na diversidade de sua produção jornalística. Se isso foi institucionalizado, ou seja, todo mundo da redação está usando e alimentando esse banco de fontes, você já tem uma ação de nota 1 (parabéns!).
Analise os resultados. Com base na metodologia desenvolvida pela Énois, é possível identificar de tempos em tempos qual é o deslocamento de cada redação do programa e em quais áreas é necessário mais atenção para promover as mudanças.
Adendo: Para além do indicador numérico, fique atento aos impactos reais que surgem desse trabalho. Qualquer deslocamento, por mínimo que seja, significa que as pessoas estão pensando mais conjuntamente na diversidade e, quando isso acontece, surgem estudos de casos muito intensos.
Compartilhe a experiência. Para engajar a sua equipe, informar a sua audiência (e se aproximar de um público diferente do que você estava acostumado), é muito importante que você divulgue como tem sido essa construção e também troque experiências e modos de fazer com outras redações.
Não desanime voltar algumas casas na régua. Construir um ambiente diverso é um processo longo, doloroso (porque enfrentamos questões delicadas e temos que reconhecer nossa participação nos processos de racismo, reforço de estereótipos, etc.) e de construção coletiva. Pode acontecer de uma iniciativa funcionar bem em um mês e no outro ser esquecida. Por isso, a busca é sempre sistematizar e institucionalizar aquela ação. Mas em questões que envolvem outras decisões e esferas de poder na redação, isso pode demorar um pouco. Portanto, não desanime! Revisite essas ações informais, compartilhe os impactos disso com a equipe e caminhe nessa construção bonita por um jornalismo mais representativo e diverso!