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Como pautar a Justiça Racial na cobertura da Justiça Climática

Tempo de leitura: 4 minutos

Ampliando o conceito

Justiça climática é um conceito que envolve estudos, iniciativas e intervenções utilizadas para a tomada de decisões que promovam a justiça ambiental.

Está interligada à justiça racial, pois a pobreza tem cor no Brasil e são essas minorias sociais as mais afetadas pelos eventos climáticos extremos, por meio do racismo ambiental. 

Os impactos das mudanças climáticas, provocados sobretudo pelos ricos, vão incidir mais sobre as populações que estão na base da pirâmide social. Nas cidades, são estas pessoas que ocupam comunidades que sofrem por falta de saneamento básico, alagamentos, deslizamentos etc. No campo, em terras quilombolas, indígenas, ribeirinhas, os povos são afetados por grilagem, queimadas, expostos à poluição e t outras violências.   

O que é

Esta ferramenta busca estimular o pensamento orgânico aos agentes da cadeia de produção de conteúdo jornalístico, sobre a necessária correlação da justiça climática e a justiça racial, para uma mudança na cultura da redação. 

Objetivos

-Conectar os impactos das mudanças climáticas às histórias de pessoas comuns, sejam elas negras, indígenas, ciganas;

– Estimular que a interseccionalidade entre a justiça climática e a justiça racial não seja abordada na redação de maneira pontual, mas como uma pauta contínua e até programática no diálogo com outras editorias;

– Fomentar que editores de seções diversas consigam interligar estes dois eixos, em quaisquer pautas de segurança, educação, economia, saúde, política, para além do meio ambiente;

– Nominar quem são os atores responsáveis/corresponsáveis por problemas causados em determinado território;

– Problematizar subnotificações em relação aos dados públicos e ausência de políticas públicas, que afetam mais indígenas, negros e ciganos;

– Fortalecer o protagonismo do jornalista e sua relação com o território;

– Diversificar os territórios cobertos quando o tema for mudanças climáticas, para aumento do escopo das matérias produzidas, já que todo e qualquer território ocupado por minorias sociais sofre algum tipo de impacto da injustiça ambiental;

Referência

A abordagem da justiça climática conectada à justiça racial vem sendo debatida no movimento social, a partir de críticas ao “movimento verde”, comumente ocupado por pessoas brancas. A crítica ocorre porque não há uma intersecção entre raça, gênero e classe nas problematizações sobre impactos das mudanças climáticas. 

No Brasil, o Instituto ClimaInfo, UolEcoa, Agência Jovem de Notícias, e outros comunicadores e veículos, têm pautado a relação entre racismo e justiça climática. 

Outra iniciativa internacional, a do jornalista indígena premiado Julian Brave NoiseCat, aponta como urgente e necessário problematizar a justiça racial, quando a pauta é climática, em toda a cadeia de produção de notícias. 

Resultados

– Aprendizagem na redação sobre justiça climática e justiça racial e mudança na cultura da redação;

– Popularização da ciência e aproximação da realidade do leitor, sobre os impactos climáticos;

– Diversidade de fontes, com pessoas comuns, pertencentes a minoriais sociais como negros, índios e ciganos, incitadas a falarem de suas realidades e dos impactos nos territórios;

– Trocas de saberes e tecnologias produzidos pelas comunidades afetadas no combate às mudanças climáticas;

-Toda a redação é capaz de agir programaticamente. Independente do cargo que se ocupa, qualquer um (a) na estrutura da produção da notícia é capaz de ampliar sua abordagem.

Passo a passo

Mapeie os papéis

-Dentro de uma redação, cada agente tem uma função específica na construção de uma cultura da redação que torna indissociável a justiça climática e a justiça racial;

Aprendizagem

-Fomente espaços de formação e reuniões de pauta com foco relacional entre a justiça climática e justiça ambiental;

-Compreenda que não existe justiça ambiental sem justiça racial;

Quem precisa falar

-Converse com ativistas indígenas, negros, quilombolas, ciganos, e perceba o que estes movimentos sociais estão pautando em relação à justiça climática;

Audiência

-O público do seu veículo precisa compreender sobre justiça racial para além do racismo. E justiça climática, para além de meteorologia.

Popularização da ciência

-Lembre que existem muitas histórias a serem contadas por pessoas comuns. Evite utilizar conceitos abstratos e busque traduzir as ocorrências da vida real, que estão acontecendo nas comunidades em razão das mudanças climáticas;

-Traduza termos técnicos relacionados às mudanças climáticas. Por exemplo, evite falar sobre a poluição por monóxido de carbono, e aproxime o leitor comum, a refletir sobre as questões respiratórias que afetam sua família;  

Acompanhamento e controle

-Avalie a atuação dos órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental, como atuam em comunidades mais pobres, afetadas pela poluição, por lixões, lugares ambientalmente degradados e como têm sido as punições relacionadas às violações;

Diversidade de Fontes

– Crie um banco de fontes, com indígenas, ribeirinhos, quilombolas, ciganos, negros.Mencione tanto ativistas como especialistas (engenheiros, advogados, cientistas) com perfil diverso.O banco deve ser alimentado pelas editorias e não somente por um jornalista;

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

– Avalie se o PDDU, instrumento que organiza o desenvolvimento do seu município, tem sido construído com a participação social e tem direcionado orçamento para as populações mais afetadas pelos impactos climáticos;

Migração climática

-Na produção de matérias, observe quais pessoas têm sido obrigadas a sair de seus territórios, em razão dos alagamentos, poluição, deslizamentos, etc.

Dados e LAI

-Utilize o jornalismo de dados e verifique os dados públicos produzidos e as evidências relacionadas aos indígenas, negros e ciganos. Quando preciso, recorra à Lei de Acesso à Informação para obter mais dados;

Produção da ciência

-Acompanhe o que está sendo produzido por associações, grupos de pesquisa, universidades, etc. Por exemplo, um estudo de Harvard revelou que a elevada poluição do ar em áreas urbanas mais pobres leva a taxas mais altas de mortes por coronavírus;

Perspectiva positiva

– O jornalismo de solução é também uma abordagem necessária na cobertura sobre a justiça climática e racial. Compartilhar práticas de proteção ambiental e de saúde, realizadas por estes grupos afetados e como tentam minimizar, pode ajudar a popularizar iniciativas;

Diversidade nas Redações

– Não esqueça que justiça racial é também justiça social. Redações não diversas podem pautar e produzir muitas matérias relacionadas à justiça climática com enquadramento de raça, gênero e classe, mas sem a participação efetiva de uma diversidade profissional na redação, dentro de toda a estrutura, o seu veículo perde a oportunidade de sair do mesmo lugar, de reprodução de desigualdades. 

Links

Descubra como cobrir as mudanças climáticas como uma questão fundamental de justiça racial, econômica e ambiental. https://coveringclimatenow.org/, 2022. Disponível em: https://coveringclimatenow.org/resource/climate-justice/ Acesso em 10 mai. 2022.

Histórias de justiça climática estão em todas as comunidades, esperando para serem contadas. https://coveringclimatenow.org/, 2022 Disponível em: https://coveringclimatenow.org/climate-beat-story/climate-justice-stories-are-in-every-community-waiting-to-be-told/ Acesso em 11 mai. 2022.

Como fazer mapa afetivo para encontrar pautas no território. http://caixadiversidade.enoisconteudo.com.br/, 2022.   Disponível em: http://caixadiversidade.enoisconteudo.com.br/como-fazer-um-mapa-afetivo-para-encontrar-pautas-no-territorio/  Acesso em: 28 abr. 2022.

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