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Dicas sobre como cobrir e fiscalizar a atividade policial

Tempo de leitura: 4 minutos
Objetivos

. Promover uma cobertura que seja respeitosa com as vítimas de violência policial

. Pautar a cobertura da atividade policial nos veículos de jornalismo local

. Evitar a reprodução de estereótipos e preconceitos na cobertura da segurança pública

Referência

“Como cobrir e fiscalizar a atividade policial” foi o tema do Redação Aberta #23, realizado a partir das experiências das jornalistas Cecília Olliveira, jornalista investigativa e diretora do Instituto Fogo Cruzado; Elena Wesley, coordenadora de conteúdo do Data_labe e gestora da Agência Narra; e Inês Campelo, cofundadora e presidenta da Marco Zero Conteúdo.

Cecília Olliveira escreveu dicas sobre como realizar uma cobertura jornalística que respeite as vítimas e explicou porque a imprensa é parte do problema da segurança pública na Diversa. Elena Wesley mostrou como produzir dados e transformar a cobertura de polícia em cobertura de segurança pública a partir da campanha #PorQueEu? Inês Campelo mostrou como estar atenta à cobertura da violência policial, no Recife, fez a mídia independente Marco Zero pautar os demais veículos de jornalismo locais.

Resultados

. Cobertura que respeite as vítimas da violência policial

. Ampliação da cobertura para além de um caso

. Política de monitoramento de dados sobre segurança pública

. Expansão da rede de fontes e da audiência 

Como medir

. Auditoria de fontes nas reportagens sobre polícia

. Monitoramento quantitativo das pautas sobre ação policial

. Repercussão nas redes sociais

. Feedback dos leitores, das fontes, famílias e especialistas ligadas a direitos humanos e fiscalização da atuação da polícia

Passo a passo

Estude. Saber como funcionam as políticas públicas sobre segurança, qual a função de cada um dos órgãos envolvidos no sistema (exemplo: Ministérios Públicos estaduais e Federal, Defensoria Pública, Polícias civil e militar, Supremos Tribunais Federal e de Justiça) ajuda a cobrar dos órgãos públicos certos. Também é importante conhecer as políticas e legislações sobre o tema. 

Buscar todas as versões da história. Essa deveria ser uma premissa da cobertura policial, pois ao reproduzir somente a versão dada pela polícia ou pelos agentes do Estado, o jornalista está sujeito a cometer falhas de apuração, a reproduzir estereótipos e a criminalizar pessoas, territórios e povos. 

Outras fontes. Forme o hábito de buscar mais informações produzidas por movimentos autônomos, organizações não governamentais e jornais independentes. 

Compare dados. Faça uma comparação dos dados divulgados pelos órgãos governamentais com outras fontes. Quem produz a informação tem o domínio daquilo que será e como será dito. Por isso, você pode acompanhar análises propostas por núcleos acadêmicos que estudam violência em vilas e favelas ou relatórios divulgados periodicamente por plataformas como Fogo Cruzado, Geni, Rede de Observatórios de Segurança, Gajop, LabJaca, Dados de Feira, Lagom, etc. Dessa forma, você também consegue analisar e descobrir tendências, fazer correlações e mostrar que determinados tipos de ações não são casos isolados.

Redes sociais. As redes sociais são fontes para acompanhar o trabalho dos agentes da polícia, principalmente quando os órgãos oficiais se recusam a responder aos pedidos de resposta. Também é importante seguir nas redes sociais lideranças comunitárias que denunciam abusos. 

Divulgue a versão original das vítimas e testemunhas das mortes. Muitas vezes, elas não podem se identificar porque correm risco de retaliação. Então, tenha muito cuidado com a identidade delas!

Casos não esclarecidos. É importante que a cobertura não termine um dia ou dois depois da operação, do caso de violência policial ou de qualquer outra atividade dos agentes públicos. Cobre mais informações sobre casos de violência não esclarecidos e fique atenta ou atento às vozes que são criminalizadas por serem da periferia.

Desmontar as narrativas. A cobertura da atividade policial requer aprofundamento de apuração nos dados e informações divulgadas a longo prazo. Muitas vezes, a apuração das jornalistas, ao longo dos meses posteriores ao fato, pode conduzir a uma narrativa completamente distinta do que foi dito inicialmente pelos órgãos oficiais da segurança pública.

Não deixe que as vidas perdidas caiam no esquecimento. Acompanhar os casos é uma maneira de manter a pressão sobre o Estado para que a responsabilização quebre esse ciclo vicioso da violência impune.

Proponha. Cobre mais pautas sobre o tema nas reuniões da redação.

Repensar decisões editoriais. Nem sempre a cobertura é determinada pelos repórteres que estão nas ruas, mas são escolhas editoriais dos veículos de comunicação. A cobertura a partir do medo tem um apelo comercial na sociedade. Fugir dessa narrativa requer repensar estratégias e provocar mudanças na linha editorial. A cobertura sobre o tema não deve ser pautada em função do ganho de cliques e likes.

Cuidado com informações falsas. A cobertura da atividade policial pode ser carregada de estereótipos e preconceitos, que acabam sendo uma porta aberta para a disseminação de informações enganosas ou até mesmo falsas. Tome cuidado para não reproduzir racismo estrutural, intolerância religiosa e violência de gênero a partir das entrevistas das fontes.

A linguagem. Aprenda quais os significados por trás de termos usados na cobertura da segurança pública, como “acusado”, “suspeito” e “processado”. Usar os termos corretos evita a criminalização das pessoas envolvidas no fato.

Transformar a cobertura de “polícia” em cobertura de “segurança pública”. Formule pautas que tragam outras capas de complexidade ao tema, que mostrem porque as operações acontecem, porque as mortes ocorrem, fale sobre dados, sobre gastos do governo com a segurança pública, sobre políticas públicas. Ao correlacionar essas informações, você conseguirá  trazer outro debate para as pessoas do território e municiar a audiência de argumentos.

Cuidado com as imagens. As imagens podem criminalizar as pessoas, um território e amplificar discursos. É preciso ter cuidado ao escolher as imagens que serão utilizadas nas matérias. Será que é necessário mostrar o rosto de uma pessoa que foi presa? A quem serve a imagem de mães de pessoas negras, vítimas da violência policial, chorando?

O território como local de produção de conhecimento. Observe as favelas como espaços de produção de dados e conhecimentos, e os moradores delas como pessoas capazes de incidir nas políticas públicas, não apenas como vítimas. São as pessoas que vivem as dores as melhores a dizer o que precisa mudar.

Ajude a pautar a mídia local. Entenda a cobertura responsável das ações da polícia como uma oportunidade de se tornar referência para outros coletivos de jornalismo e comunicação locais, assim como para a grande mídia e a população da sua comunidade. 

Links

https://enoisconteudo.com.br/a-imprensa-e-parte-do-problema-da-seguranca-publica/

https://catarinas.info/caso-kathlen-e-a-producao-de-mortes-pelas-policias-brasileiras/
https://fogocruzado.org.br/newsletter/
https://fogocruzado.org.br/estatisticas/

https://api.fogocruzado.org.br/

https://fogocruzado.org.br/relatorios/

https://theintercept.com/2018/12/13/o-fim-de-uma-faccao/

https://noticias.uol.com.br/reportagens-especiais/com-milicia-em-expansao-confrontos-policiais-no-rio-miram-trafico-e-somam-so-3-em-areas-de-milicianos/

https://iddd.org.br/

https://elastica.abril.com.br/especiais/violencia-policial-racismo-vidas-negras/

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