Objetivos
. Produzir fotografias que respeitem a diversidade de corpos e territórios
. Evitar a reprodução de estereótipos por meio das imagens
. Refletir sobre a diversidade a partir da imagem no fotojornalismo
Referências
A imagem traz informações relevantes para a compreensão dos fatos, pois pode descrever de forma ágil um objeto, um gesto, pode indicar um momento chave para análise de um acontecimento e pode motivar um relato. Uma foto pode ser uma necessidade estética da narrativa ou até de acessibilidade, para comunicar uma informação a pessoas que não sabem ou não podem ler. Por isso, uma imagem pode convocar a gestos e interpretações, não é neutra e pode produzir estereótipos de raça, gênero, território, etc. A partir dessas questões, o professor Ronaldo Entler, da rede da Énois, propõe um caminho para repensar o uso da imagem dentro do jornalismo.
Resultados
. Fazer fotografias que não reproduzem estereótipos no fotojornalismo
. Trazer diversidade para as imagens publicadas em conteúdos jornalísticos
. Maior senso de responsabilidade com as imagens publicadas
Como medir
. Analisar as fotografias ou vídeos publicados no seu meio de comunicação
Passo a passo
Apelação. Às vezes, a imagem tem a função de encantar o olhar do leitor/espectador, mas é preciso ter cuidado para não transformá-la em algo apelativo, reduzir um acontecimento importante a um espetáculo. É preciso sempre avaliar, caso a caso, o uso de uma imagem e quando, na verdade, isso o que está ocorrendo é uma exposição desnecessária.
Bancos de imagem. É preciso tomar cuidado com as imagens retiradas de bancos de imagens. Utilizar fotografias de corpos, famílias, casas, trabalhos e escolas genéricas pode reforçar violências, afinal essas fotografias são normativas e transmitem apenas uma narrativa. Por isso, ao escolher usar imagens, procure aquelas que acrescentam à narrativa da sua reportagem, que não reproduzam nenhum tipo de normatividade ou ações genéricas. O jornalismo não deve ser vendável, mas representativo e inclusivo.
Pessoas e corpos diversos. Quando falamos de narrativas jornalísticas que prezam as diversidades, também estamos falando de reportagens comprometidas em romper com os estereótipos sociais. Assim, é preciso tomar cuidado com imagens que reforcem violências, cenas de agressão e extrema pobreza, por exemplo, devem ser usadas com muita cautela. Às vezes, a melhor saída para a narrativa da matéria, são imagens de corpos diversos com aspectos de suas vidas sociais, afetivas e culturais, que são igualmente representativos dessas histórias.
Flagrante. O jornalismo mais tradicional valoriza imagens espontâneas e que sejam flagrantes da situação das matérias. Essas imagens, também consideradas denúncias, podem invadir a privacidade de quem está sendo fotografado, e reforçar ainda mais violências e assédios. Assim, fotógrafas e fotógrafos locais que fazem fotojornalismo podem conseguir confiança com as personagens da reportagem, e construir imagens através do consentimento, que mesmo montadas, mas que retratem o que a reportagem quer falar ou denunciar. Um exemplo é mudar a forma de cobrir as violências que ocorrem dentro de uma periferia, trazendo a imagem que os moradores daquele local gostariam de ver.
Agilidade. A agilidade de captar o momento nem sempre é a melhor forma de registrar um acontecimento. É importante comprometer as imagens com um percurso, que pode ser o percurso do olhar que se aproxima de um acontecimento, ou o percurso do pensamento que tenta dar a esse acontecimento um sentido. Pode ser generoso com todos os sujeitos implicados – retratados e leitores – revelar nas imagens a hesitação que toda realidade complexa impõe a quem tenta entendê-la, porque a história e a identidade de uma pessoa ou lugar são feitas também dos pequenos detalhes que as cercam.
Fotografia local. Uma das formas de conseguir imagens autênticas, que podem ser representativas e que respeitam as diversidades, é fomentar a fotografia local. Parceirar a reportagem com um fotógrafo ou fotógrafa do seu território, é uma forma de conseguir uma imagem que não seja invasiva, feita por alguém que não conhece apenas a história, ou a denúncia da matéria, mas o território das personagens, e até mesmo as personagens. O Canal Reload é um exemplo de produção por celular e feita por jovens, um formato diferente de pensar e distribuir informação. Outro exemplo é o que faz a jornalista, produtora audiovisual e cultural, e produtora de formações na Énois, Glória Maria, assim como Fernando Sato, do Jornalistas Livres.
Proximidade. Ao invés de buscar sempre o diferente, a fotografia deve também mostrar aquilo com que o olhar se identifica. Mostrar o mundo a partir de dentro é um modo de empoderar-se dos discursos sobre si e restituir lugares de fala, trazendo não apenas uma observação, mas a experiência dos acontecimentos, tal e qual eles foram vividos ou sentidos. Essas vivências e sentimentos são dados que também fazem parte da realidade.
Como você se aproxima. A narrativa que você produz será tanto mais legítima se contar também a história de sua aproximação. Isso pode ser feito revelando os dispositivos técnicos, a interferência que a produção da imagem gera na rotina desse outro, mas também por meio do texto que acompanha a imagem. E, se sua presença gerar desconforto, não hesite em compartilhar a autoria da narrativa com as pessoas que são os sujeitos dos acontecimentos: você pode dividir com elas sua câmera ou, pelo menos, a responsabilidade pela roteirização e pela direção da cena.
Contexto. Uma imagem deslocada de seu contexto, que faça de um instante circunstancial uma situação emblemática ou geral, com uma legenda que força interpretações abusivas: essas situações são, na maioria das vezes, resultados de uma edição mal-intencionada. Prestar atenção e contextualizar as imagens é fundamental, ainda mais em função da disseminação de desinformação e fotos fora do contexto para enganar pessoas nas redes sociais.
Ficou na dúvida? Se você ficou na dúvida se está reproduzindo violências por meio da imagem, o guia de fotografia inclusiva, da Authority collective, recomenda que você se faça as seguintes perguntas:
- Estou perpetuando narrativas estereotipadas com o meu trabalho?
- Já considerei como a minha perspectiva ou privilégio pode ter efeito em como me aproximo da fotografia?
- Quais são as consequências prováveis da publicação da minha fotografia? Quem será
prejudicado? Quem será ajudado?
- Ao selecionar fotografias de outros países e de populações em risco, estou aplicando o mesmo rigor como eu faço para as fotografias da minha própria comunidade?
- A minha abordagem estética é construída sobre estigmas usados para desumanizar África, Ásia e o povo latino-americano?
- Como posso expandir os tipos de pessoas, locais e organizações a partir dos quais desenho a minha história, ideias e ângulos?
- Quanto tempo passo com as pessoas e comunidades antes de fotografar eles? Reservei tempo para fazer a minha investigação e perguntas sobre questões subjacentes e contexto da comunidade ou grupo que vou fotografar?
- Os fotógrafos que admiro ou sigo nas redes sociais são, na sua maioria, brancos de países ocidentais?
- Quando viajo para um país estrangeiro para fotografar, tento encontrar fotógrafos desse país para aprenderem como vêem as suas próprias comunidades?
- Quantas fotografias vencedoras de prêmios apresentam pessoas negras do Sul global? Quantos dos fotógrafos que ganharam os prêmios são dessa demografia?