Objetivos
. Ampliar as informações disponíveis sobre a infância e adolescência na comunidade trans
. Produzir reportagens com uma abordagem informativa, explicativa e respeitosa
. Ajudar a romper estereótipos sobre infância e adolescência trans
Referência
O jornalismo costuma falar sobre transgeneridade na infância sempre sob a visão da violência, devido a algum crime contra essa comunidade. Para celebrar o Dia da Visibilidade Trans, lembrado em 29 de janeiro, o jornal O Povo (CE) decidiu buscar outro caminho e produziu uma reportagem sobre como as famílias são parte do processo de descoberta de crianças e adolescentes trans. A reportagem buscou ampliar informações sobre a infância e adolescência na comunidade trans com abordagem informativa, explicativa e respeitosa, para ajudar as famílias a lidar com a situação.
Falar sobre esse assunto na infância costuma despertar reações e discursos de ódio, o que leva a sociedade a ver o tema como algo a ser combatido, negado, proibido. Com a matéria, o jornal o Povo conseguiu algo diferente. A produção, no início destinada apenas aos assinantes, precisou ser aberta, diante de tanta demanda por leitura e acabou se tornando referência para a discussão local da questão. A matéria terminou o dia da publicação com mais de 26 mil acessos, o que é significativo para um conteúdo fechado. Ficou entre os sete conteúdos para assinantes mais lidos do mês, surpreendendo a equipe. E também recebeu mais comentários positivos que negativos.
Resultados
. Estabelecimento de uma relação de confiança com as fontes
. Tornar-se referência para envio de sugestões de pauta sobre o tema
. Ampliar o alcance de uma matéria inicialmente produzida somente para assinantes
. Fazer a audiência buscar o consumo de conteúdos sobre infância e adolescência trans
. Elogios à forma respeitosa, bem fundamentada, original e de qualidade como o assunto foi tratado
Como medir
. Feedback das famílias e dos entrevistados
. Respostas dos leitores
. Feedback de especialistas no tema
Passo a passo
Estude o tema. Antes de começar a apuração, busque referências sobre o tema. Livros, textos científicos, outras matérias, pessoas e instituições da comunidade podem te ajudar a compreender conceitos básicos e a não reproduzir estereótipos. Isso ajuda a ter uma ideia de como alguns setores da sociedade já lidam com o assunto de forma natural. As instituições podem ser parceiras, inclusive, para indicar fontes.
Produza sem pressa. Essa é uma apuração que requer cuidado, então faça com tempo. Se puder, tire um dia ou mais apenas para escrever. Também é válido passar o máximo de tempo possível com as famílias, acompanhando a rotina delas. Converse com as crianças e adolescentes, conquiste a confiança deles e os deixe à vontade. Conte para eles sobre como será a matéria.
Escute as preocupações das famílias. Como o tema é sensível e estamos falando de crianças e famílias inseridas no contexto da comunidade trans, as pessoas entrevistadas podem perguntar como a história delas será abordada na matéria. Considere essa preocupação delas e busque envolvê-las nas etapas da produção, para que elas sintam confiança e respeito com o que será publicado.
Questione o conceito “tradicional” de família. Na entrevista, pergunte sobre aspectos que envolvem a ideia de família. Não fosse a presença de uma criança trans nessa família, ela se encaixaria dentro dos parâmetros do que é considerada uma família tradicional? Mostre que a família tradicional é aquela feliz, com a presença de toda a estrutura familiar por perto, incluindo avós e amigos.
Busque o coletivo. No jornalismo, normalmente buscamos numa pauta aquilo que há de particular, único, diferente. Neste caso, faça o caminho inverso. O que há aqui em comum com aquilo que se considera padrão? Está tão distante assim? Que referências existem para mostrar a quem não esteja familiarizado com esse universo para ajudá-los a reconhecer ali a existência do que se convenciona como família?
Imagem. A decisão editorial sobre citar nomes e mostrar fotos que identifiquem as crianças ou famílias deve ser, acima de tudo, uma decisão da família. Os jornalistas precisam deixar os entrevistados absolutamente à vontade para decidir.